Polémica como nenhuma outra feminista americana, Camille Paglia é um fenómeno de popularidade nos Estados Unidos. Defensora de um movimento feminista muito próprio, que aceita o papel do homem e responsabiliza a mulher por qualquer conduta inadequada à igualdade de géneros a que aspirou, Paglia foi descoberta pelo mundo no início da década de 90 quando escreveu no “New York Times” uma crónica sobre Madonna, dizendo que a cantora tinha mudado o mundo do feminismo. Nunca mais parou. Os seus livros, dos quais se destacam “Sexual Personae” e “Sex, Art, and American Culture”, são afirmações controversas muito bem sustentadas, mas que lançam fogo sobre a sociedade americana da qual é analista social, cultural e política. Hoje, aos 68 anos, continua debaixo das luzes, numa altura em que o feminismo ressurge e ela lhe aponta o dedo.
Quando é que começou a sentir-se mal na sua pele feminina e a preocupar-se com a sua sexualidade?
Muito cedo. Quando era criança, ainda pequena, não me identificava de todo com o facto de ser uma menina. Foi nos anos 50, um tempo em que os géneros estavam muito marcados, muito rígidos e muito conformistas. Era o período a seguir à II Guerra Mundial. As raparigas não podiam usar calças como hoje, não podiam usá-las para ir para a escola ou ir à igreja. E já havia fatos-calças muito elegantes desenhados por Yves Saint Laurent…
Imagino que não gostava de ter de obedecer a essas regras.
Não. Além de mais, era uma criança cheia de energia, agressiva mesmo.
Rebelde?
Sim, rebelde. E muito tenaz sempre que ia à luta, brigava mesmo. Era muito mais um rapaz do que uma rapariga. Sentia-me completamente alienada do meu género durante a infância. Passei a sinalizar esse meu desfasamento através dos fatos que escolhia para me mascarar no Halloween. O meu primeiro vestido foi a Alice no País das Maravilhas, ainda uma rapariga, mas depressa passei a optar por me disfarçar de rapaz ou de homem. Fui o Robin Wood, o Matador da “Carmen”, o Napoleão, vi-o num anúncio na revista “Time” e passei a adorá-lo, fiquei obcecada com o uniforme que ele usava. Depois fui o Hamlet de Shakespeare, que encontrei num livro de banda desenhada. E deixe-me dizer-lhe que não havia nenhuma rapariga a vestir-se de homem ou de heróis naquela altura. Ah!, e fui um soldado romano que vi na igreja numa das estações da Via Sacra, com Jesus a caminho da crucificação. A maioria das pessoas ficaria interessada em Jesus, eu não. Eu gostei mais do soldado, do escudo, da lança e do capacete…
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Como é que reagiam os seus pais?
Eram muito tolerantes. É espantoso porque eram eles que faziam os trajes que eu vestia. Não tínhamos muito dinheiro, o meu pai era professor de liceu, quando eu nasci estava ele na faculdade. A minha mãe era muito boa costureira, fazia luvas de casamento, a minha avó também. Eram muito criativos a fazer coisas e todos ajudavam a que os fatos ficassem perfeitos. Ficava felicíssima! Halloween era o meu dia preferido do ano. Podia ser o herói masculino que sempre tive dentro de mim.
Isso repercutiu-se no seu trabalho até hoje.
Acho que o meu trabalho, a forma como me dediquei à análise dos géneros, ao sexo e por aí fora vem precisamente desse período da minha infância em que me senti uma alienada, resultante do facto de ser alguém que não encaixava em lado nenhum. Era uma inconformada. Mas há um lado positivo nisto tudo. Sou capaz de pensar da mesma maneira que um homem, ou pensar da mesma forma que uma mulher. Tenho essa capacidade e essa mais-valia a que chamaria transexual, como escritora e analista da sociedade.
Quando é que assumiu a sua sexualidade. Nos anos 60, a década de todas as liberdades?
Sim. Quando estava na faculdade entre 1964 e 1966. Foi no tempo perfeito, durante a revolução cultural. Inspirava-me então na moda londrina. Pela primeira vez tinha roupas de que gostava. Seguia a chamada moda de Carnaby Street. As pessoas ainda se lembram do meu visual diferente dos outros. Estava numa Universidade no Estado de Nova Iorque mas não em Nova Iorque. Tudo era notado. Tinha calças de marinheiro… Coisas que só tinham sido vestidas por homens. E gravatas, podia usar gravatas. Tinha uma camisola à Tom Jones. Cortei o cabelo bem curto. Calçava umas botas iguais às dos Beatles. Era feliz assim. Mas desde então, a moda feminina entrou numa direção contrária. Hoje não consigo encontrar nada em loja nenhuma que me faça sentir confortável.
A imagem é assim tão importante para vincar a identidade sexual de cada um?
Acho que sim. Sobretudo para pessoas como eu que têm uma disfunção sexual. É essencial para produzir o sentimento da separação do outro género, seja ele qual for. É uma forma de marcar a maneira como as pessoas se comportam e pensam. É muito bom para um escritor sentir-se longe dos outros e poder observá-los de fora com olhos de ver. Olhá-los a partir das suas origens, fronteiras, limitações. Além disso, tenho a certeza de que alguém que tenha um problema de género se sente muito mal ao ter de vestir-se igual aos outros, não é essa a forma certa de se exprimir. Nos últimos 20 anos, na América, houve um ressurgimento do vestuário feminista para as raparigas mais jovens, mas para as mais velhas só lhes é permitido vestirem-se de forma chata e aborrecida. Uma espécie de Hillary Clinton look.
Como democrata e como feminista porque é que não quer que Hillary Clinton seja Presidente dos EUA?
Apoio Bernie Sanders nas primárias porque as suas convicções políticas são próximas das minhas. Ele foi um dos membros da contracultura dos anos 60. Sanders reflete completamente o sentimento e o pensamento da minha geração. Hillary Clinton é uma fraude. É uma falsa. Não a considero uma feminista. Nunca conseguiu terminar ou cumprir nada na vida. As funções que desempenhou e os empregos que exerceu foram-lhe dados de bandeja por ser mulher de Bill Clinton. Nunca conseguiu nada por ela própria. E quando desempenha essas funções ou não percebe nada do que está a fazer ou provoca um desastre. Foi o que fez na Líbia ao forçar Obama a bombardear o país e retirar Kadhafi do poder. Agora é o caos que está instalado. Cada vez que discursa fala das suas preocupações em relação às mulheres e crianças, mas nunca faz nada. Só promete. Este fascínio por Hillary Clinton é uma miragem, uma alucinação. Há mulheres na América que deviam ter sido as primeiras presidentes dos Estados Unidos, como a senadora Dianne Finestein, da Califórnia, ou Nancy Pelosi. O problema é que estas mulheres não se chegaram à frente, não quiseram passar pelo horror de serem presidentes dos EUA, é um pesadelo, nem tiveram dinheiro para o fazer como Hillary Clinton tem.
E o que pensa de Donald Trump?
É um choque. Não há um único analista político americano que não esteja chocado com Trump. Não nos surpreendeu a sua candidatura como republicano. O problema é que todos pensámos que ele teria desaparecido ao fim de uma semana, de alguns meses, mas, ao contrário, ele tem vindo a ganhar terreno. É um fenómeno extraordinário. O que ele demonstra é a mediocridade dos candidatos a Presidente dois dois lados. E, infelizmente, a única razão por que está a manter-se ao de cima é porque é um homem de negócios muito bem-sucedido. O ponto está no facto de ele saber como gerir um negócio. As pessoas gostam da sua capacidade de decisão, gostam do modo como briga com os media. As nossas finanças estão uma confusão, a dívida é enorme, as pessoas querem alguém com poder que consiga gerir tudo isso sem burocracias, que despeça funcionários e reduza o tamanho do Governo. E quanto mais agressivo e ofensivo ele é mais surge aos olhos dos cidadãos como um homem forte.
O que é para si a essência do feminismo?
Sou uma feminista que defende a igualdade de oportunidades. Com isto quero dizer que exijo que sejam retiradas todas as barreiras existentes às mulheres em campos como a política e o mundo profissional. No entanto, oponho-me a uma proteção especial para as mulheres. Sou contra regras que permitam às raparigas, por exemplo nos campus universitários, queixarem-se do que acontece num encontro com um rapaz. Exijo que as mulheres tenham total responsabilidade de si mesmas. Não acredito em proteções especiais quando alguém lhes diz alguma coisa ofensiva, a não ser que seja no domínio profissional. Acredito, sim, que as mulheres têm de falar por elas próprias e travar as suas batalhas.
D.R.
Como por exemplo?
O que estou a dizer com isto é também que nem tudo na nossa vida pode ser controlado, nem tudo na nossa vida é politicamente correto. Há todo o tipo de problemas e de instabilidades entre os dois sexos que têm que ser tratados individualmente e com os quais o Governo não deve ter nada que ver. O feminismo para mim devia ser um programa de ativismo social. O feminismo não tem o direito de intrometer-se na vida privada das pessoas. O modo como os homens e as mulheres se comportam nas suas relações pessoais é uma questão apenas da sua livre escolha.
É por isso que apoia a prostituição, a pornografia, as drogas e o aborto?
Sem dúvida. Considero que são matérias de escolhas privadas.
É esse o seu conceito de defensora da liberdade individual?
Exatamente. Sou a favor dos valores da revolução de 1960, que começou com o grito pela liberdade de expressão na Universidade de Berkeley, na Califórnia, dirigida então pelo italiano Mario Savio. E é preciso que se saiba que quando cheguei à faculdade, as mulheres não eram tratadas da mesma maneira que os homens. Dormíamos em dormitórios separados, mas os homens podiam sair a noite toda e nós tínhamos de entrar às onze da noite e éramos controladas. As faculdades atuavam em nome dos pais, substituíam-nos. Revoltámo-nos e exigimos o desaparecimento dessas regras. Mas a resposta que obtivemos foi a de que o mundo era perigoso e que podíamos ser violadas. Por isso a faculdade tinha de nos proteger. Na minha geração, nós mulheres dissemos o contrário: Saiam das nossas vidas privadas! Deem-nos a liberdade para arriscarmos ser violadas.
Uma das frases mais polémicas da sua carreira.
Esta é a diferença da minha filosofia sobre o feminismo. Há muitas outras. Uma delas, talvez a mais forte hoje em dia, quer toda essa proteção de volta no mundo académico e profissional. Isso é um insulto, é ultrajante. O que temos agora na América é a possibilidade de uma rapariga que esteja na universidade e que saia com um rapaz ou vá a uma festa se possa queixar do comportamento dele se algo correr mal. Pode mesmo conseguir uma espécie de julgamento interno com os reitores da faculdade como juízes. Enquanto o rapaz não tem qualquer proteção legal. Que raio de coisa é esta? Um negócio da China. Se for cometido um verdadeiro crime é preciso chamar a polícia e fazer uma queixa. Se houver realmente uma violação é a polícia que tem de a investigar e punir. Mas o feminismo de hoje chegou a este ponto de distorção.
Porquê exatamente distorção?
As mulheres deste país pedem e querem uma proteção especial. Isto não é feminismo. Isto é materialismo burguês. Privilégios burgueses. Estas mulheres querem que o mundo seja tão seguro como as salas de estar dos seus pais. É um verdadeiro retrocesso relativamente ao que o feminismo dos anos 60 conseguiu alcançar. Esta é a minha posição. Sei que é muito controversa e que as pessoas me atacam constantemente por isso. Mas sei perfeitamente o que as mulheres querem ou deviam querer: liberdade.
Que significa o quê?
Terem de se responsabilizar totalmente pela sua vida sexual. Dou um exemplo. Estas feministas estão tão confusas que saem para rua vestidas como prostitutas e defendem que têm o direito de andar vestidas assim e não serem violadas. É claro que têm esse direito. Mas a questão é que se tomarem essa atitude não tem qualquer lógica continuarem a apoiar a prostituição.
Mas está contra a maneira como as mulheres se vestem hoje?
Não. O que quero dizer é que a maneira como nos vestimos é uma forma de comunicação. Apoio qualquer mulher que queira sair à rua meio despida. Mas tem de estar consciente das consequências disso e acatar as responsabilidades. O problema destas mulheres é que se vestem de uma forma muito sexy e não percebem e negam mesmo que estão a enviar mensagens. Acham que nenhum homem tem o direito de se sentir atraído por elas e de lho dizer… Já o disse há algum tempo: as mulheres têm todo o direito de se vestir como a Madonna, no entanto, se se estão a publicitar, têm de estar prontas para se vender! É preciso que percebam de uma vez por todas que estão a comunicar sexo e apetite por sexo. Se não estão preparadas para se proteger nem têm ideia de que é perigoso aquilo que estão a fazer não saímos de uma imbecilidade.
O mesmo se aplica aos homens?
Sim. Mas repare-se que os homossexuais sabem há anos que é assim. Há anos que vão para as ruas procurar sexo, sexo com estranhos. Sabem que ao fazerem-no estão em risco de serem atacados e até mortos. Têm consciência disso. E pagam o preço desse comportamento. Os homossexuais são corajosos, conhecem o mundo. Estas raparigas burguesas não. Querem que o mundo seja refeito à sua imagem e à imagem dos seus privilégios.
Mas estava a dizer-me porque era pró-prostituição, pró-pornografia, pró-drogas, pró-aborto…
Sou. E sou pró-clubes de strip, pró-pole dancing. Adoro tudo isso. Sou a favor das revistas masculinas. Estes meios mostram como as mulheres têm poder. Mas estas mulheres sabem quão perigoso isto é, quão potenciador é em termos sexuais. Estão muito conscientes da imagem que projetam. Enquanto as feministas burguesas são ignorantes. Acham que podem controlar a resposta dos outros às suas mensagens. Isto não é sexualidade sequer. É sentimentalismo infantil!
Teríamos uma sociedade melhor se a prostituição e a pornografia não fossem ainda condenáveis?
Acho que a pornografia, sobretudo, é um sujeito muito importante da cultura moderna. Sempre fez parte da tradição greco-romana. Mas não devia ser pública. É uma questão, outra vez, de uma opção individual. Acho que a pornografia é uma forma de arte. Sempre que surgem novas sociedades, aquilo que é expresso primeiro é tudo o que de alguma forma é reprimido e vedado. No feminismo, a pornografia foi sempre uma espécie de recompensa. Mas, nos anos 80, houve muitas feministas fanáticas que tentaram impedir até a venda de revistas como a “Playboy” e a “Penthouse” e conseguiram fazer passar leis proibitivas, até que os tribunais decidiram que isso era anticonstitucional. Porém, essa ala feminista foi derrotada quando a world wide web chegou em força. A pornografia hoje está em todo o lado. É um dos negócios mais rentáveis da internet, o que mostra que as pessoas estão interessadas em pornografia. Há uma necessidade latente.
Que necessidade é essa?
É fruto do facto de estarmos constantemente a ser reprimidos neste novo mundo moderno. Trabalhamos em escritórios com sistemas de trabalho demasiado mecânicos, automáticos. Como se o corpo fosse mais uma parte desse gigantesco mecanismo. A pornografia mostra a dinâmica sexual de que a sociedade precisa e que não nos é permitida mostrar durante o dia. É um instinto básico.
Como o sexo. Acha que hoje há menos interação física do que deveria haver?
Tudo o que sei é que há filmes cada vez menos interessantes do ponto de vista sexual. E sinto-me muito feliz por ter feito parte de uma geração que assistiu à revolução do cinema europeu com estrelas como Jeanne Moreau e Catherine Deneuve, que carregavam uma sexualidade enigmática e brilhante, tão superiores ao período americano de Doris Day ou Debbie Reynolds. Fui confrontada com um olhar sofisticado sobre a sexualidade e sobre a sensualidade. Tudo isso desapareceu. E esse é outro problema. Os filmes de hoje já não mostram sexo com algum tipo de mistério e química. As mulheres vestem-se como babydolls e Barbies. A imaginação sexual perdeu-se, morreu mesmo, pelo menos na América. Por alguma razão hoje em dia o sexo está em todo o lado mas tornou-se fastidioso. Acho que o último filme com verdadeiro potencial sexual que foi feito, foi com a Sharon Stone em “Instinto Fatal”, em 1992.
Acha que já não há verdadeiras estrelas?
Exatamente. Neste momento até os atores são pequenos. Olhem para a Angelina Jolie hoje. É uma chatice. Quando começou a carreira parecia que iria ser uma grande figura do ponto de vista da cultura popular, fez grandes papéis, era dinâmica, sexy e fabulosa. O que é que lhe aconteceu? Está cheia dela própria com esta carreira humanitária. Parece uma anorética, com os ossos todos à mostra e sem qualquer potencial sexual. Deixou de ser a grande estrela sexy que poderia ter ido longe. É uma tragédia. É o espelho do que aconteceu à nossa cultura. Já não há guiões interessantes, nada. Olhem para a Jennifer Lopez. Também tinha tanto talento e perdeu-se. Nunca foi suficientemente explorada pelo cinema. Os videoclips são o único suporte onde ainda há sexo.
E o que aconteceu a Madonna, uma das suas grandes musas, aquela que “mudou o mundo”?
Oh! A Madonna não está a conseguir lidar com o envelhecimento. Está a tentar competir com as raparigas mais novas. Mudou de facto o mundo, como sempre disse. Para mim, ela era o futuro do feminismo. Representava a ala pró-sexo do movimento. Madonna libertava sexualidade. Os seus vídeos eram verdadeiras obras de arte. Veja-se ‘Open Your Heart’ ou ‘Express Yourself’. O modelo que deveria ter seguido era o de Marlene Dietrich, que tinha a mesma combinação de ambição e glamour. Mas a Madonna não estudou a maneira como Marlene envelheceu, com dignidade. Por isso é que recusou trabalhar com ela, justificando-se ao dizer que Madonna era demasiado vulgar.
Mas as intérpretes mais novas não continuam a tê-la como modelo?
Beyoncé sim, aprendeu muito com a Madonna. Mas também a acho chata. Prefiro a Rihanna. Adoro a sua noção de moda. Tem um ótimo gosto. Cada noite em que sai e vai a um clube é fantástica, verdadeiramente atraente. Contudo, não é boa musicalmente. É demasiado tímida, por isso não chega aos Grammys nem conseguiu ir à cerimónia.
E o que pensa da Taylor Swift?
Desprezo-a completamente. É uma fraude, uma espécie de Barbie, mas muito fashion. Se não fosse assim não tinha toda a prole de raparigas atrás ou contra ela. Só ganhou o Grammy porque o disco foi um sucesso comercial. O que ela faz é música de pastilha elástica, doces para miúdas adolescentes.
A cultura ocidental está decadente?
Não sei se lhe chamaria decadente. Acho que se trata mesmo de um colapso cultural. Estamos a viver os últimos tempos da cultura ocidental. Preferia, sinceramente, que fosse apenas um período de decadência, como aconteceu nas épocas em que Oscar Wilde e David Bowie foram referências.
Os dois tiveram uma grande influência no seu trabalho.
Tiveram sim. Mas o Almodóvar também. Fez filmes maravilhosos, como “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”. Carmen Maura era brilhante.
Mas hoje assistimos ao tal colapso?
Sim. Os jovens estão interessados em redes sociais. Para mim, o Facebook e o Twitter, coisas que não utilizo, são os grandes culpados da situação a que chegámos. Os jovens só comunicam por mensagens. Felizmente há o Instagram, onde se podem expressar em termos artísticos. Mas esta cultura da selfie é aberrante.
É uma espécie de narcisismo?
É. E é importante perceber o que está a acontecer culturalmente para produzir essa forma de estar. Acho que as pessoas perderam a sua identidade neste sistema corrosivo de carreira profissional. A obsessão com as selfies significa isso mesmo. E o mais grave é que todas as fotografias que se tiram, mesmo as que possam ter valor artístico, são mostradas apenas aos amigos. Não há a noção de que um artista, que pode começar pelo Instagram, se dirija ao grande público, que faça verdadeiras declarações públicas daquilo que tem para dizer. Considero que a cultura ocidental está num nível muito baixo, é um deserto, é estéril.
Porquê?
Porque a geração mais nova está a retirar a sua energia da arena pública e a aplicá-la neste mundo pernicioso das redes sociais. Fico furiosa com isto. Até nas aulas tenho de obrigar os alunos a desligarem os telemóveis!
O que é que diz aos seus alunos, o que lhes ensina?
Tento sempre dar-lhes uma noção da História. O que é raro, já nem os professores de literatura e humanidades acreditam que a História existe. Falam dela com uma falsa narrativa, completamente fragmentada. É tão estúpido e idiota como isto. Eu olho para a vida humana com milhares de anos de longevidade.
E o que diz ao seu filho de 12 anos?
Não sei bem explicar.
Ele mudou a sua perspetiva de olhar o mundo?
Não. Ele veio confirmar tudo o que tenho vindo a dizer sobre diferenças sexuais. A minha ex-companheira, que é a mãe biológica dele, concorda. Ele mostra-me como os homens e as mulheres são diferentes.
Em que sentido?
Por exemplo, ele gosta de tudo o que é mecânico. Adora saber como é que as coisas são feitas, construídas. Como funcionam as máquinas. Gosta de desconstruir tudo, todos os objetos, até uma caneta. Joga horas com os amigos àqueles jogos de construir e desconstruir edifícios. Não lhe ensinei nada. É tudo instintivo. Como o brincar com carros e com armas para destruir cidades inteiras.
Não era esse o papel do homem ao longo dos tempos e civilização após civilização?
Exatamente. Isto é o que os homens fizeram ao longo do tempo. Eu sinto-me uma transexual e o meu trabalho girou sempre à volta da androginia. Mas também sempre afirmei que o mundo gira em torno das diferenças sexuais entre os heterossexuais. Acho que está errado o feminismo querer dizer que o género se constrói. Não. O género tem uma base biológica incontornável, que se vê até na maneira como comunicam entre eles.
Como assim?
As mulheres precisam umas das outras, conversam de modo único, têm uma linguagem muito própria que só os gays poderão entender. Mas a pressão que estão a colocar sobre os homens hoje está errada. Chegam os dois do trabalho e, sobretudo as mulheres de classe alta, exigem que os homens falem com elas utilizando a linguagem que é só delas. O que quero dizer é que no novo sistema profissional, homens e mulheres trabalham lado a lado de um maneira que nunca fizeram na história da humanidade.
Tem ainda a noção da divisão de tarefas que existia antigamente?
Sou descendente de uma família de emigrantes italianos. Nessa altura, lembro-me perfeitamente, tudo estava organizado à volta de dois mundos, o das mulheres e o dos homens. As mulheres cozinhavam. Ficavam em casa, tratavam dos filhos. Os homens saíam e ganhavam dinheiro. Este foi um sistema que funcionou durante milhares de anos.
Porque é que o sistema atual não está a funcionar?
Porque estamos neste período urbano e industrial, estamos em plena era tecnológica, em que as tarefas profissionais se tornaram exatamente as mesmas para homens e mulheres. E ainda por cima trabalha-se com a cabeça, não com o corpo. As diferenças sexuais esbateram-se. As mulheres pensam que como têm igualdade no local de trabalho e no mundo da política, acham que as coisas vão mudar também em termos da forma como comunicam com os homens nas suas relações privadas. E estão infelizes. Não se sentem realizadas. Sentem-se sozinhas.
Qual a verdadeira razão para isso?
A perda da solidariedade entre elas com a competição profissional. Perderam a partilha dos problemas de cada uma. Perderam o desabafo sobre o fardo que é ter um filho e criá-lo. Perderam a companhia umas das outras, o apoio umas das outras, e até coscuvilhice – a minha mãe e a minha avó tinham tudo isso – e agora querem que os homens, os maridos, as satisfaçam de todas as maneiras.
E os homens estão preparados para o fazer?
Claro que não. Não são capazes, não podem. As mulheres querem que eles ajam como as amigas. Mas isso não é a forma como as mentes deles funcionam.
As mulheres são hoje demasiado exigentes?
São, mas mais importante do que isso é que são miseráveis. As mulheres de classe alta com sucesso no trabalho são infelizes. As feministas sabem-no. E culpam os homens de tudo. Dizem que são eles que têm de mudar de comportamento. Acho que as mulheres têm de ser neste momento mais conscientes e pararem de culpar os homens pela sua infelicidade! Olhem para o sistema laboral e alterem o que tem de ser alterado.
Mas as mulheres não têm hoje de lidar com muito mais pressão?
Sem dúvida. Casam-se, engravidam e querem voltar para o trabalho. Mas quem vai tomar conta dos filhos? Quem vai arrumar a casa, lavar a roupa? Tudo isso são pressões e mais pressões e já não têm com quem as dividir. É por isso que o feminismo de hoje está errado quanto insiste em culpar o homem.
Qual é hoje o papel do homem?
O homem hoje está a passar por uma grande crise de identidade. Não sabe exatamente qual é o seu papel. E as mulheres têm de ter mais empatia para com eles. Os homens têm impulsos diferentes. As suas hormonas não são iguais às nossas e fazem com que os seus cérebros funcionem de outra maneira. E é por isso que a pornografia é tão importante hoje em dia. Porque é o único escape que eles têm para o mundo da sexualidade e da fantasia.
Está a dizer que as mulheres não praticam tanto sexo com os homens como costumavam fazer?
Não é bem isso. É uma questão de tudo ser muito familiar, das regras não se quebrarem, sobretudo nos casamentos burgueses. Há um sentimento de fadiga, não há nada interessante a acontecer ou a permitir que aconteça. Não há o tal mistério. Mas acredito que as mulheres latinas, como as portuguesas, italianas, espanholas e brasileiras têm muito mais criatividade, energia sexual, noção de elegância, sendo ao mesmo tempo grandes empresárias, economistas ou administradoras. Os casamentos de hoje, na América, são aborrecidos sexualmente e o homem corre o perigo de se tornar mais uma criança lá em casa.
O que pensa da atual mania da transexualidade?
Preocupa-me muito. Atravessamos uma época extremamente difícil no que respeita ao terrorismo. Uma época muito parecida com o período romano, quando as tribos fora do império começaram a ameaçá-lo sem que ninguém se apercebesse. Era demasiado grande, burocrático e frágil. De tal forma que caiu. Essas sementes de choque, a transexualidade, que a cultura ocidental lança na terra alheia pode levar a um aceleramento da barbárie e do caos.
Fala da Jihad?
Sim. Estou a dizer que há muitos grupos de fanáticos no mundo que gostariam de deitar abaixo esta civilização ocidental que não entendem. E nós já não sabemos como sobreviver.
O “New York Times” chama-lhe “uma educadora”. Mas não se vê mais como uma provocadora?
Sim, sem dúvida. Faz parte da minha personalidade até como escritora. Quero espalhar confusão, destabilizar as pessoas. Derrubar as suas convicções mais sólidas. Mas também sou uma humorista, uma comediante. Inspirei-me muito na Joan Rivers, sou engraçada. No entanto, adoro a sátira e o meu tipo de ataque vem daí. Oscar Wilde foi o meu professor nesse capítulo. Além disso, sou boa a criar polémicas porque consigo resumir o meu pensamento numa frase. O que adquire um poder extraordinário. O que digo torna-se uma máxima. Sou o que me torna muito perigosa
Fonte: Expresso.sapo.pt
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