Violência

Rose Leonel foi vítima de um crime cibernético muito comum, mas ainda pouco condenável do ponto de vista judicial. Em 2006, inconformado com o fim do relacionamento, o ex-companheiro de Rose, Eduardo Gonçalves da Silva, na época administrador de um Shopping de Maringá, divulgou fotos íntimas dela na Internet por e-mails e em sites de prostituição. Desde então, foi travada uma batalha judicial. Rose não busca apenas a condenação de Eduardo, mas também a conscientização das mulheres a respeito dos riscos de se permitir fotografar nua e a aprovação de um projeto de lei que enquadra esse tipo de crime na Lei Maria da Penha.

Mãe de um casal de adolescentes, Rose foi demitida do jornal em que trabalhava como colunista social e apontada pela sociedade como prostituta. Ela afirma que a publicação das fotos abalou ainda a estabilidade psicológica dos filhos, que tiveram seus telefones também divulgados pelo empresário. O mais velho atualmente mora com o pai no exterior, com consentimento da jornalista, que preferiu mantê-lo privado de possíveis represálias. “O que sofri foi um assassinato moral, um assassinato psicológico, emocional”, desabafa.

Pelo crime, Eduardo foi condenado a pagar uma indenização de R$ 30 mil. Para ela, a condenação foi uma maneira de mudar o sentimento das pessoas em relação a ela: “Apesar de não ter recebido nenhum centavo ainda, quando a sentença saiu, eu me senti aliviada. Depois da sentença, eu acho que ficou claro para a sociedade que eu era a vítima e ele [o ex-noivo] era o culpado da situação”. Apesar dos recursos, o Tribunal de Justiça do Paraná manteve o valor da indenização a ser paga por Eduardo.

| Projeto de lei

Maria da Penha Virtual é o nome da proposta que está em debate na Assembleia Legislativa do Paraná e na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. De autoria do deputado João Arruda (PMDB-PR), o projeto de lei foi criado por Rose Leonel, que buscou apoio na esfera política e conseguiu ao menos colocar o tema em discussão. A Maria da Penha Virtual considera violência doméstica e crime inafiançável a divulgação de fotos e vídeos na Internet sem o consentimento da mulher. Após os problemas enfrentados, a jornalista se viu instigada a ajudar outras mulheres que passam pela mesma situação e sofrem, por muito tempo, preconceito por parte da sociedade. “Eu quero, através desse projeto, passar uma experiência para as outras vítimas de que é preciso superar as dificuldades e voltar a viver. Vou levar isso como uma bandeira e como uma missão”, considera.

| ONG

Rose Leonel criou uma ONG que busca oferecer assistência jurídica e psicológica a mulheres que tiveram suas vidas destroçadas na Internet. “Eu quero poder cercar essa mulher, dar caminhos, mostrar que ela não está sozinha, dar um apoio que eu não tive”, afirma. A instituição Marias da Internet terá um espaço virtual (ainda em construção) para que as mulheres possam contar suas histórias e buscar orientações a respeito dos passos a serem tomados, além de aconselhamentos profissionais sobre autoestima e confiança. “A gente não sabe, mas podemos dormir com o inimigo. E daí eu me pergunto: ‘Em que sentido a gente pode confiar no outro’?”