Atualidade

Milú Ferreira, nascida Maria de Lourdes Ferreira, é há dez anos diretora da Galeria Espaço Arte Livre de Lisboa que fica em um edifício estilo pombalino na nobre Avenida da Liberdade, ao lado de seu marido, Prudêncio Ferreira. É a guru dos artistas que passam por Portugal e buscam projetar suas obras no mundo das artes plásticas. Cidadã do mundo, com domicílio na capital lusitana e apartamento em Paris, muito jovem foi morar na Cidade Luz. Ali, já aos 21 anos, dentre uma seleção de 39 pretendentes, tornou-se assessora e lha adotiva do diplomata Maurice Couve de Murville, que dirigiu o Ministério de Relações Exteriores e, mais tarde, tornou-se primeiro-ministro da França nos idos de 1968. Assim, veio a conhecer o grand monde parisiense, dentre nomes da literatura, da música e das artes em geral, ponto de partida para sua internacionalização.

Hoje, a célebre marchand reconhece que, a partir de então, metade de seu coração passou a ser francês, ao lado do português, numa época em que fez inesquecíveis amizades, dentre as quais cita a inigualável Edith Piaf, que veio a cantar para ela o “Rian de Rian”; da pianista brasileira Magdalena Tagliaferro, com quem ia tomar chá, e, mais tarde, Claude Pompidou, mulher do antigo primeiro-ministro George Pompidou, que chegou a lhe emprestar joias para ela comparecer a uma recepção.

Por sua trajetória, com o intuito de projetar a arte, que para ela é alimento da alma, viaja por diversos países. Já expôs nos Estados Unidos, Brasil, Macau, Inglaterra, Espanha e mais recentemente Luxemburgo, a convite de Vitor Caldeira, presidente do Tribunal de Contas Europeu, e já tem programação para expor em Angola. Indagada, reconhece ser uma andarilha sem fronteiras, muito embora suas raízes, em um atavismo, estejam fincadas no solo português.

A Galeria

Com decoração refinada, objetos de arte, lindos candelabros, castiçais de prata, esculturas, tapeçarias, o Espaço Arte Livre é um altar para as artes em geral, onde Milú transita com familiaridade ao mostrar a história de cada peça que decora esse santuário, que também se abre para conferências, exposições, vindo recentemente a alterar omundoclássico emque convive, para promover a exposição do artista baiano Ed Ribeiro. Ed, que em sua arte de pintar orixás do candomblé afro- brasileiro fez muito sucesso, com uma vernissage a caráter, em um décor diferenciado, dentro de um ritual típico, que envolveu pétalas de rosas no chão, incenso e ela, comme il faut, vestida de branco. Roteiro do crème de la crème, a Senhora das Artes, também recebe pessoas simples
para quem seus quadros são inacessíveis com a mesma cordialidade, em ambiente onde constam quadros do mestre Júlio Pomar, por onde passaram as pinturas de Graça Moraes, Paula Rego, dentro de um acervo que cede a galerias emuseus,comquadros assinados por Picasso e Monet, dentre ouros. Recorda Milú Ferreira, natural de Catanhede, que sua vida pelas artes é um amor que vem de longe. “Meu pai desenhava muito bem, meu irmão também, cedo peguei nos pincéis estimulada por d. Margarida, minha professora primária, vindo a pintar, antes de ser curadora”, comenta.

Para ela, o gratificante é estabelecer uma conexão entre o artista e público, semear colaborações entre as grandes amizades que acabam por
se formar, a aproximação
entre patrocinadores que se reconhecem e cam amigos e passam a colaborar uns com os outros. “O pintor Paulo Ferreira dizia que a maior fortuna dele era os amigos, e eu incorporo as palavras dele. Realmente a amizade é uma das coisas mais importantes que podem existir”, afirma Milú Ferreira, a 
grande anfitriã das artes,
cujas exposições merecem constar do roteiro 
oficial de quem 
passa por Portugal.