Trata-se de procedimento de alto custo e o Facebook já começou a pagar as despesas relativas ao procedimento (até vinte mil dólares), bem como a taxa de manutenção da criogenia (de 500 dólares por ano), mesmo que não exista indicação médica para que este seja realizado. A Apple também propôs a medida e vai começar a pagar pelas tais despesas a partir de janeiro (segundo informações prestadas à NBC News).
Assim, em teoria, as funcionárias serão beneficiadas, pois terão maior probabilidade de engravidar após os 35 anos, momento em que a fertilidade diminui. Aliás, não só o congelamento de óvulos, mas o auxílio para o procedimento de fertilização e a contratação de barriga de aluguel também serão “providos” pelas empresas.
O ambiente corporativo, construído por homens e para homens, de fato, prevê comprometimento para solidificação de uma carreira e ascensão dos 20 aos 40 anos, período este que coincide com o período de fertilidade da mulher. Com a utilização de tal procedimento, as funcionárias mulheres poderão deixar a maternidade para um momento em que já tenham atingido seu pico do ciclo produtivo na empresa, sem se preocupar com o tal relógio biológico.
Desta forma, também em teoria, essas empresas estariam adotando medidas para atrair mulheres para o masculino mundo da tecnologia. Aproximadamente 70% dos quase 100 mil funcionários da Apple são homens, percentual este que se repete no Facebook. Outra intenção é também encontrar saída para reter os talentos femininos que acabam por abandonar suas carreiras em função da maternidade, até porque a licença maternidade não remunerada nos Estados Unidos torna tudo mais difícil para estas mulheres.
Há muito, os Estados Unidos estão aquém quando se trata de tratamento equitativo entre os gêneros no ambiente de trabalho. A despeito das legislações estaduais adotarem saídas diversas, os Estados Unidos promulgaram apenas em 1993 o “Family and Medical Leave Act” e este prevê tão somente 12 semanas de licença-maternidade não remunerada após o nascimento ou adoção da criança e desde que respeitadas as restrições de número de horas trabalhados pela mãe e porte da empresa (apenas para empresas que tenham 50 ou mais empregados).
Vale pensar, todavia, se o tal beneficio é de fato bem-vindo. As empresas do Vale do Silício, ao custear o congelamento de óvulos, estão adotando uma medida paliativa de curto prazo pragmática que “resolve” a questão para as mulheres que estão atualmente investindo em suas carreiras e que tem que enfrentar as limitações físicas da gravidez e pós parto durante uma jornada extenuante de trabalho. Porém, ao meu ver, essas empresas não estão enfrentando de verdade o problema da sub-representação de mulheres no setor, nem a ascensão destas.
Atrair mulheres para o ambiente corporativo e incentivá-las a galgar ascensão em suas carreiras é aceitá-las e assumi-las com suas diferenças biológicas.
Além disso, em termos de governança, a tão desejada diversidade no ambiente de trabalho e de tomadas de decisão não é atingida se a todos os que advêm de contextos distintos ou apresentem diferenças biológicas seja imposto o “padrão” de atuação esperado de um homem de 30 anos.
Até porque, aos homens de 30 anos não são impostas restrições físicas nem emocionais advindas de escolhas pessoais, nem tampouco esses sofrem tão fortemente com a gestão do conflito carreira-família.
Segundo artigo publicado por Sylvia Ann Hewlett em 2002 na Harvard Business Review, pelo menos um terço das mulheres do país que se incluem na categoria das que ascenderam e são bem remuneradas – as “high achievers” (as que ganham mais de $55,000) – não têm filhos. Por outro lado, a pesquisa revela que, dentre o homens “high achievers” entrevistados, 79% afirmam que querem ter filhos, e 75% os têm. De fato, quanto mais bem sucedido o homem, mais provável é que ele tenha uma esposa e filhos
Quanto à categoria que Hewlett denominou “ultra-achivers” (os que ganham mais de $100,000, aos 40 anos, 49% das mulheres não têm filhos, enquanto que apenas 19% de seus colegas do sexo masculino não os tem.
Sem nem sequer adentrar nas questões de risco à saúde (pressupõe a injeção de altas doses de hormônio e é invasivo) e ao fato de que o procedimento de congelamento para posterior fecundação não tem taxa de sucesso de 100%, é importante avaliarmos outro efeito que esse tipo de medida pode gerar.
Diante da possibilidade da medida de congelamento de óvulos, as mulheres que não “optarem” por postergar suas famílias serão tidas como pessoas menos comprometidas com a empresa, o que é falacioso.
Pela perspectiva empresarial, políticas que assimilem a capacidade de trabalho das mulheres quando enfrentando limitações da gravidez e vivência da maternidade podem ser mais eficientes do que apoiá-las no adiamento deste momento familiar.
Diante da minha experiência e observações pessoais, tanto como profissional quanto como mãe de duas crianças, vejo funcionárias mais incentivadas e aguerridas em todos os âmbitos de suas vidas quando estas têm amor familiar, de forma que o zelo com a família não deveria representar um impedimento para progressão de profissionais mulheres. Algumas nutrizes que pude avaliar tornam-se até mais eficientes uma vez que evitam o desperdício de tempo no local de trabalho diante da necessidade de voltar para casa para amamentação.
Já pela perspectiva de equidade de gênero e o tão almejado exercício pleno das capacidades de homens e mulheres, creio questionável naturalizar o impedimento das mulheres terem filhos nos momentos consoantes com seus ciclos reprodutivos para que possam competir em pé de igualdade com os colegas homens.
Assim, a boa intenção que pretende se travestir de solução de empoderamento e ganho de autonomia para as mulheres é, de fato, egoísta, masculina e auto-centrada. Uma saída de opressão, num mundo masculino que não quer se reinventar para incluir de fato as mulheres em todos os ambientes.
Fonte: Brasil Post
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