Empoderamento

Mary del Priore, historiadora, trata da “arraigadíssima tradição patriarcal” em seu livro Histórias Íntimas – sexualidade e erotismo na história do Brasil. “Na Colônia, no Império e até nos primórdios da República, a função jurídica da mulher era ser subserviente ao marido. Da mesma forma que era dono da fazenda e dos escravos, o homem era dono da mulher. Se ela não o obedecia, sofria as sanções”, analisa. As Ordenações Filipinas regiam o Brasil Colônia e asseguravam ao homem o direito de assassinar a mulher caso a flagrasse em adultério. Provavelmente com exceção apenas da Islândia, a mulher sempre foi vista como um ser inferior ao homem. Na era dos vikings, naquele país, enquanto eles se lançavam ao mar, era responsabilidade delas manter a ilha funcionando. Por lá, atualmente, a taxa de feminicídio é zero, os salários são equiparados e o machismo é considerado abominável.

Tomando como exemplo a Islândia, é possível afirmar que a violência doméstica está ligada à herança social e cultural. Os índices de violência contra a mulher não estão relacionados necessariamente com transtornos psicológicos ou famílias desestruturadas. Tampouco ao alcoolismo (que pode ser o estopim, apenas) ou à classe social. Casos como o da cantora Rihanna e da atriz Luana Piovani demonstram que a ideia de superioridade independe de condição financeira ou grau de instrução.

No Brasil colonial, segundo Del Priori, a realização das mulheres residia na maternidade. Muitas vezes, elas “uniam-se aos seus filhos para resistir à solidão, à dor e ao abandono”. Há uma ideia de que o encontro colonial baseou-se na oposição entre o homem-colonizador e a mulher-natureza. Isso representa o início do patriarcalismo no Brasil. A simbologia colonial indica que o europeu voltava para casa depois de conquistar as terras e as mulheres estrangeiras. Como afirma Lia Zanotto, do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, “o Brasil de hoje não é o Brasil do passado, mas o controle do homem sobre a mulher persiste na memória social”.