A atriz Marília Pêra morreu às 6h deste sábado em sua casa, na Zona Sul do Rio, ao lado da família. Marília sofria de câncer nos ossos e no pulmão, doença que vinha combatendo havia dois anos. O velório está sendo realizado desde as 13h deste sábado, na sala que leva o nome da atriz, no Teatro Leblon, no Rio. O enterro está marcado para às 16h no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Mesmo com a saúde debilitada, Marília Pêra teve um ano cheio de trabalho. Além de voltar ao ar em “Pé na cova”, do qual esteve afastada por conta de um problema nos ossos do quadril, a artista dirigiu a peça “Depois do amor”, que estreia justamente neste sábado, em Manaus, com Danielle Winits e Carolina Ferraz. Marília também estava preparando um disco com canções de nomes como Tom Jobim e Dolores Duran e narrou o documentário sobre Chico Buarque, de Miguel Faria Jr. No meio de novembro, circulou a notícia de que atriz estava internada por conta de um câncer no pulmão em estágio avançado, motivando uma mensagem de Miguel Falabella, com quem trabalhou em “Pé na cova”: “Por favor, não desista de nós”. O filho da atriz, Ricardo, desmentiu sobre a internação.
RELEMBRE A TRAJETÓRIA
Marília Marzullo Pêra, irmã da também atriz e ex-Frenética Sandra Pêra, foi um dos grandes nomes do teatro brasileiro nas últimas sete décadas. Seu pai, o português Manoel Pêra, era ator e tinha uma companhia teatral no Rio; a mãe, Dinorah Marzullo, era atriz. A avó, Antonia Marzullo, fez vários papéis no cinema. Nascida no Rio, em 22 de janeiro de 1943, estreou nos palcos com apenas 19 dias de vida, numa peça que precisava de um bebê.
Apesar da experiência familiar, enfrentou a resistência do pai não queria que ela seguisse a vida artística. Ela insistiu e entrou para o mundo da dança, onde foi atuante dos 14 aos 21 anos, quando participou dos populares espetáculos de revista. Após convencer o pai, conseguiu um papel em “De Cabral a JK”, de Max Nunes. Foi quando conheceu o ator Paulo Graça Mello, com quem se casou aos 16 anos.
Juntos, se apresentaram no Circo Tihany e, à noite, trabalhavam na boite Plaza, em Copacabana. Encenaram ainda várias peças, como espetáculos infantis do Teatro de Brinquedo. A essa altura, Marília dançava o clássico e o moderno, sabia piano, tinha bons estudos musicais, podia cantar uma partitura à primeira vista, interpretava do lírico à bossa nova e chegou a compor sambinhas com o marido, exímio violonista. Participou da era de ouro dos musicais. Ainda assim, continuava desconhecida.
Aos 18 anos, já era mãe (de Ricardo Graça Mello). Seu primeiro grande papel foi em “Como vencer na vida sem fazer força”, disputado com Elis Regina, em 1964. No ano seguinte, a TV Globo foi inaugurada, e Marília deu início à carreira em telenovelas. A primeira foi “Rosinha do sobrado” (1965), já como protagonista. Na sequência, vieram a primeira versão de “A Moreninha” e, na Tupi, “Beto Rockfeller” (1968).
Paralelamente, conseguia trabalhos cada vez mais sólidos no teatro: “Se correr o bicho pega”, de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar; “A ópera dos três vinténs”, de Bertolt Brecht e Kurt Weill; “A megera domada”, de Shakespeare; e “Roda viva”, de Chico Buarque, pela qual passou a ser perseguida pela Ditadura.
Em 1969, destacou-se como Mariazinha, uma solteirona virgem, em “Fala baixo senão eu grito”, de Leilah Assumpção, papel que lhe deu o primeiro de três prêmios Molière. O segundo foi com o monólogo “Apareceu a Margarida” (1973), de Roberto Athayde e o terceiro, com “Brincando em cima daquilo” (1984), de Dario Fo e Franca Rame. Logo depois, em 1986, dirigiu e coreografou Marco Nanini e Ney Latorraca em “O mistério de Irma Vap”, que ficou 11 anos em cartaz.
Marília colecionou personagens marcantes. Na TV, entre outros, a Shirley Sexy de “O cafona”, a taxista Noeli de “Bandeira 2” (ambas em 1971), a Rafaela de “Brega & chique” (1987) e a vilã Juliana, na minissérie “O primo Basílio” (1988).
No cinema, depois de uma estreia que não a agradou, em “O homem que comprou o mundo” (1968), de Eduardo Coutinho, persistiu na tela grande. Em 1980, recebeu o prêmio de melhor atriz da Associação dos Críticos de Cinema dos Estados Unidos, pela prostituta Sueli em “Pixote, a lei do mais fraco”, de Hector Babenco. “Isso me abriu as portas do mundo, mas não fui trabalhar nos EUA porque não dominava o inglês”, contava. Entre seus 24 filmes, estão “Bar Esperança, o último que fecha” (1983) de Hugo Carvana, e “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles.
MESMO FAZENDO TV E CINEMA, EM NENHUM MOMENTO ABANDONOU OS PALCOS. FOI DALVA DE OLIVEIRA, DIRIGIU UMA PEÇA SOBRE MARIA CALLAS E ATUOU, CANTOU E DANÇOU NA PELE DE CARMEN MIRANDA. POR SUA ATUAÇÃO EM “MADEMOISELLE CHANEL” GANHOU O PRÊMIO FAZ DIFERENÇA 2006, DO GLOBO, E O SHELL. EM 2013, ESTRELOU “ALÔ, DOLLY!”.
Este ano, Marília foi homenageada pela escola de samba paulistana Mocidade Alegre. No ar no seriado “Pé na cova”, Marília recentemente participou de “Aquele beijo”, em 2011, sua última novela, e esta em “cartaz” no cinema. É ela quem faz a narração de “Chico – Artista brasileiro”, documentario de Miguel Faria Jr. que estreou em novembro.
Marília deixa três filhos, Ricardo Graça Mello, Esperança Motta e Nina Morena, e o marido Bruno Faria.
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