A grande diva que revolucionou o papel da mulher na arte brasileira.
Atriz, cantora e diretora, Bibi Ferreira morreu nesta quarta-feira (13), aos 96 anos, após sofrer uma parada cardíaca em sua casa no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro.
A carioca, que trilhava seus 77 anos de carreira, foi um dos nomes mais importantes no meio artístico brasileiro e seus feitos, como mulher e artista, deixaram um marco sobre o que se entende por arte no Brasil.
Abigail Izquierdo Ferreira nasceu em 1º de julho de 1922. Filha de um dos maiores nomes das artes cênicas do Brasil, o ator Procópio Ferreira (1989-1979), e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, Bibi – apelido que ganhou ainda na infância – estreou nos palcos com pouco mais de 20 dias de vida.
Em cena, ela apareceu no colo da madrinha, Abigail Maia, em encenação de “Manhãs de sol”, de Oduvaldo Vianna (1892-1972).
Bibi Ferreira com o pai, Procópio Ferreira, em 1978 — Foto: TV Globo
Mulheres na direção
Nos anos 1970, Bibi Ferreira deu um basta no machismo que dominava o ambiente artístico no Brasil ao se tornar uma das primeiras mulheres a dirigir peças de teatro na época, em que elas eram restritas a participarem dos espetáculos apenas como atrizes; nunca no comando.
Em 1952, a artista recebeu o prêmio de melhor direção pela peça “A Herdeira”, de Henry James, pela Associação de Críticos do Rio de Janeiro.
Marco na história da arte no Brasil
No ano de 1944, Bibi fundou sua própria companhia de teatro: a Companhia de Comédias Bibi Ferreira. O espetáculo de estreia foi o “Sétimo Céu”, protagonizado por mulheres, com as atrizes Maria Della Costa e Cacilda Becker.
Sua importância ao longo dos anos fez com que seu nome fosse escolhido para representar um dos prêmios mais importantes do teatro. O prêmio Bibi Ferreira prestigia as melhores obras do teatro nacional.
Seu nome, além do prêmio, deu origem também ao Teatro Bibi Ferreira, localizado em São Paulo, que traz atores da TV aos palcos teatrais.
Contribuição artística ao país
A artista também deixou sua marca em sua terra natal. Em 2015, Bibi Ferreira conquistou o título de uma das dez mulheres que marcaram a história do Rio de Janeiro por sua contribuição à cidade e ao país.
Bibi foi uma das únicas brasileiras se a apresentar em Nova York, nos Estados Unidos, em shows com os ingressos lotados. O destaque foi tão grande que rendeu a ela uma matéria em um dos jornais mais conceituados do mundo, o “The New York Times”, em 2016.
Na década de 2010, Bibi começou a realizar espetáculos focados em apenas um artista, como a francesa Edith Piaf, a portuguesa Amália Rodrigues, e o americano Frank Sinatra.
Vida reservada
Admirada pelo público e adorada e respeitada pelos colegas, Bibi sempre manteve uma rotina discreta, evitando a exposição de detalhes de sua vida pessoal – raras eram suas aparições em eventos sociais.
Segundo amigos mais próximos, quando estava fora dos palcos, Bibi preferia passar o tempo em seu apartamento no Flamengo. Teve vários casamentos e apenas uma filha, Teresa Cristina.
Afastamento
“Nunca pensei em parar. Essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos a que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada! Bibi.”
Com essas palavras, atribuídas a Bibi Ferreira em comunicado publicado em rede social, a atriz e cantora carioca anunciou, em 10 de setembro de 2018, que encerrava uma das carreiras mais gloriosas construídas por uma artista no Brasil e no mundo.
Aos 96 anos, a artista se retirou voluntariamente de cena para preservar a saúde após três sucessivas internações.
De acordo com a nota, Bibi disse que não iria mais se apresentar nos palcos como atriz e/ou cantora. Tampouco daria entrevistas, nem mesmo por e-mail, como vinha fazendo nos últimos tempos.
Artista multimídia, Bibi ao longo da carreira fez filmes, apresentou programas de TV, gravou discos e dirigiu shows. Tudo sem nunca abandonar o teatro, uma grande paixão.
Também foi enredo da Viradouro no Carnaval do Rio em 2003. Recentemente, teve a vida e obra contadas no espetáculo “Bibi, uma vida em musical”, escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, com direção de Tadeu Aguiar. Na montagem, a protagonista foi interpretada por Amanda Costa.
Em março de 2018, já aos 95 anos, Bibi foi assistir a uma apresentação do musical, então em cartaz em um teatro no Rio e fez o público se emocionar ao chorar cantando, da plateia e sem microfone, uma música de Edith Piaf (1915-1963).
Fonte: Universa e G1