Centenas de mulheres afirmam ter sido abusadas sexualmente enquanto buscavam ajuda espiritual.
João Teixeira de Faria, mais conhecido como João de Deus, é um médium brasileiro nascido em Cachoeira de Goiás. Aos 76 anos de idade, ele foi acusado por cerca de 500 mulheres.
A força-tarefa que investiga as denúncias contra João de Deus começou o trabalho de investigação na segunda-feira (10), depois que o programa Conversa com Bial, da Rede Globo, divulgou o relato de dez mulheres que disseram ter sido abusadas sexualmente pelo médium.
O Ministério Público Estadual de Goiás (MP-GO), que assim como a Polícia Civil, investiga a suspeita de crimes sexuais durante tratamentos feitos pelo religioso, havia contabilizado, até o fim da terça-feira (11), mais de 200 denúncias contra o médium.
Atualmente o número de vítimas já ultrapassa 500. Para atender às mulheres que não moram em Goiás, o MP-GO preparou uma sala de videoconferência. Nela, ficam os cinco promotores de Goiás que participam da força-tarefa, duas psicólogas e dois tradutores de línguas estrangeiras.
Os crimes, segundo as mulheres, teriam acontecido durante atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO). Durante o programa da Rede Globo, apenas a coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus concordou em se identificar e mostrar o rosto. Ela afirma ter sido estuprada.
No dia seguinte, o jornal O Globo também publicou três relatos. De acordo com as mulheres, João de Deus conseguia ficar sozinho em sua sala com elas usando o argumento de que elas tinham sido escolhidas para receber a cura.
A partir da divulgação das denúncias, centenas de mulheres se pronunciaram contra o médium, possíveis vítimas que moram em outros países procuraram o grupo para denunciar casos de abuso sexual. Denúncias chegaram de mulheres que moram na Alemanha, Austrália, Bélgica, Bolívia, nos Estados Unidos e na Suíça.
No Brasil, mulheres de Goiás, no Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pará, Santa Catarina, Piauí e Maranhão relataram abusos. Entre elas a filha do médium, Dalva Teixeira, que relatou, em reportagem publicada pela Veja, que foi abusada pelo pai dos 10 aos 14 anos de idade.
Mais de 30 depoimentos já foram colhidos pelos MPs de São Paulo, Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Espírito Santo. Em mais um novo relato, publicado no último sábado 15, uma mulher de 36 anos afirma ter sido abusada em Vitória (ES), em 1984. Na ocasião, o médium estava vendendo objetos religiosos e oferecia consultas espirituais de brinde.
No último domingo, 17, João de Deus se entregou à polícia. Caso seja condenado, o sensitivo que opera em nome de Deus terá cometido crimes de assédio sexual, violência doméstica, sextorsão, crimes contra a fé da humanidade, contra seus fieis e apoiadores, e contra uma cidade cujo principal sustento é o centro espírita criado por ele. Estupro é crime e a Justiça tem na mão o depoimento de centenas de mulheres na maior quebra de silêncio da história.