Violência

Filme dá voz as inúmeras mulheres que não foram ouvidas.

O filme ‘The Rape Of Recy Taylor’  relata a terrível história de Recy Taylor. Recy  foi estuprada coletivamente por seis homens – e eles jamais foram presos. O crime aconteceu no Alabama, em 3 de setembro de 1944, mas o caso ganhou certa repercussão em 2017, quando o documentário sobre Recy foi lançado e ela veio a falecer logo depois. A americana morreu em 28 de dezembro, pouco antes de completar 98 anos.

O corpo da mulher negra tem sido visto sob um olhar racista e machista desde a fundação dos Estados Unidos. Datado de quando a primeira mulher negra pisou em solo norte-americano, a negritude sempre foi ‘diferente ‘: feita para parecer de natureza inferior ou exótica. Então, não foi surpresa quando o corpo da mulher negra se tornou uma mercadoria para os senhores de escravos e funcionários do governo americano, como Thomas Jefferson. Por muito tempo a sexualização e desumanização das mulheres negras foram varridas para debaixo do tapete como parte da vida cotidiana, no entanto, o lançamento em  2017 do filme “The Rape of Recy Taylor” rejeita esse silêncio e usa o teatro como um espaço para segurar um espelho até a face da história dos Estados Unidos.

‘The Rape of Recy Taylor’,  O estupro de Recy Taylor ( em tradução livre), ) no título já é poderoso. Destaca seu nome e reconhece o que foi feito naquela noite em 1944. O filme não é para os fracos, já que lida com realidades pesadas e diz ao história de Recy Taylor , a mulher negra que foi estuprada por 6 homens brancos que nunca foram levados à justiça.

Ao longo do filme, seguimos a história de Recy.  A diretora, Nancy Buirski, faz um trabalho maravilhoso ao mapear visualmente e conectar o caso da Recy com o forte envolvimento das mulheres de cor, impulsionando o movimento pelos direitos civis. Ela ressalta ainda o papel de líderes dos direitos civis, como Rosa Parks, que dedicou grande parte do seu tempo ao boicote pós-Montgomery a casos de agressão sexual contra mulheres negras.

Buirski faz um ótimo trabalho ao conectar todos os pontos históricos. Vemos como o posicionamento racial passado moldou nossa classificação social atual. Ela também examina como o tratamento das mulheres de cor tem sua linhagem na definição do modo como os papéis familiares negros são estabelecidos.

Recy, aos 24 anos, foi estuprada por seis homens brancos, que a sequestraram na saída da igreja. Ela estava com o filho pequeno, voltando para casa, quando foi abordada por sete homens armados num carro. O bando fez ameaças e acabaram levando-a para um matagal – onde seis deles cometeram o estupro.

A violência foi brutal e os homens chegaram a confessar o crime, mas jamais foram presos. Recy denunciou os agressores e não foi difícil identificar o carro em que eles a levaram. O motorista, Hugo Wilson, foi chamado a depôr e delatou os outros seis – ele foi o único que não cometeu estupro. Ao final, Hugo teve que pagar 25o dólares de multa.  Após grande mobilização social, o caso foi levado a julgamento. Composto apenas por homens brancos, o juri decidiu que não havia provas suficientes.

As campanhas por justiça ganharam ainda mais força depois disso e o governo do Alabama sentiu-se pressionado a intervir. Um ano depois do crime, um dos agressores, chamado Joe Culpepper, confessou tudo. Os outros acabaram relatando que haviam transado com Recy, mas alegaram que o sexo foi consensual, chamando-a de prostituta. Isso foi o suficiente para que o juri mais uma vez inocentasse o bando.

Somente em 2011, 67 anos depois do crime, o governo do Alabama fez um pedido de desculpas a Recy Taylor. Em retratação oficial, o Estado reconhece ter falhado na punição dos agressores. Mesmo assim, ela viveu uma vida inteira sob o horror da impunidade e seus agressores não sofreram qualquer consequência por aquele estupro coletivo.

Na esteira dos tumultos de Charlottesville, o filme mistura o ultraje passado com um ponto de vista atual. O filme é tão poderoso e emocionalmente carregado que deixará os espectadores com anseios de protestar mais de 70 anos depois.

https://www.facebook.com/PhilosTv/videos/1708250579251662/