Cultura

Em comemoração ao aniversário de Chiquinha Gonzaga (1847-1935) no dia 17 de outubro, que coincide com o Dia Nacional da Música Popular Brasileira, o Instituto Moreira Salles (IMS), guardião do acervo da compositora, está disponibilizando pela primeira vez os manuscritos e as partituras de Chiquinha gratuitamente na internet.

Neste primeiro momento, já estão online mais de 500 arquivos em formato PDF, que perfazem a maior parte de suas composições, incluindo clássicos como o maxixe Corta-jaca, a modinha Lua Branca, a polca Atraente e a marchinha de carnaval Ó Abre Alas, primeira composição do gênero no Brasil, composta ainda no século XIX. Porém sua obra vai muito além, valendo-se de gêneros desde a música cômica até a música sacra.

Chiquinha Gonzaga nasceu em 1847, fruto do relacionamento de um militar de alta patente no Exército Imperial e de uma mulata. Desde criança, demonstrou especial interesse pela música. Por pressão paterna, casou-se em 1863, aos 16 anos, com o fazendeiro e oficial da Marinha Jacinto Ribeiro do Amaral, que não valorizava sua paixão pela arte. O ciúme era tanto que recebeu do marido um ultimato: “Escolha a música ou eu”. Chiquinha não hesitou em voltar-se para a música. Desafiou e transgrediu os costumes machistas, sendo protagonista de um escândalo, já que, na época, as mulheres separadas eram vistas como alheias à sociedade. Após a dura escolha, deu aulas de piano, animou festas domésticas ao lado do conjunto Choro Carioca e tocou em lojas de instrumentos. Passou a escrever e publicar partituras e, em 1885, tornou-se a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Vendia seus impressos de porta a porta. Atraente foi o primeiro sucesso, composto aos 29 anos de idade. Nesse período, participou da campanha abolicionista, sendo presa, e também dedicou-se à campanha republicana. Aos 52 anos, Chiquinha outra vez rompeu tabus. Apaixonou-se por João Batista Fernandes Lage, um músico de 16 anos. Temendo o preconceito, fingiu adotá-lo como filho e, posteriormente, mudou-se com o jovem para Lisboa, a fim de viverem longe da pressão da sociedade carioca. De volta ao Brasil, em 1900, conheceu Nair de Teffé, caricaturista e primeira-dama do Brasil, esposa do presidente marechal Hermes da Fonseca, outra revolucionária. Mais uma vez escandalizou

Eternizada pelo talento e pioneirismo, ela continua viva no coração dos brasileiros por suas memoráveis canções a sociedade da época tocando música popular nos salões do Palácio do Catete, para desgosto da elite conservadora. Reconhecida como uma das maiores compositoras e instrumentistas da música brasileira, sua obra tem mais de 2 mil composições. Ó Abre-Alas, composta após a passagem do cordão Rosa de Ouro sob sua janela, no Andaraí, Rio de Janeiro, faz sucesso até os dias de hoje nos carnavais do Rio. Chiquinha faleceu em seu apartamento aos 87 anos de idade, às vésperas do carnaval de 1935, ao lado de João Batista Lage, seu grande amor.