Cultura

Joana Vasconcelos é uma das mais reconhecidas artistas plástica portuguesa da sua geração. Suas obras, conhecidas mundialmente, resultam da apropriação, da descontextualização e da subversão de objetos existentes e das realidades do cotidiano, que ganham uma nova realidade apaixonante. Em entrevista à revista Persona Mulher, Joana, responsável pela criação do Pop Galo, obra que representará Portugal nas comemorações dos 450 anos do Rio de Janeiro, revela suas inspirações, sonhos e paixões.

Francesa de nascimento, portuguesa de coração, a artista se diz uma mulher do mundo. “Portugal é a minha raiz e é também o que me faz ser multicultural e global. Afinal foram os portugueses que criaram a “aldeia global” quando embarcaram em caravelas, descobrindo e povoando os vários continentes do mundo – que é muito maior do que a nossa geografia”, observa.

Inspirada na vida e no seu cotidiano, suas criações resultam de uma observação crítica do que a rodeia, unindo o clássico ao popular, Joana repensa e interpreta a cultura portuguesa, construindo uma nova identidade coletiva. “O que eu faço é repensar e interpretar, através da minha subjetividade, um legado cultural. Como artista, o que pretendo é apresentar uma nova proposta, que irá despertar novas leituras e gerar diálogos e questões. O que me interessa acima de tudo é colocar em confronto o que é tradicional português e o que é realizado pelo mundo, e na possibilidade de articular isto através de um diálogo”, destaca.

Nesse sentido, objetos banais do cotidiano, símbolos da cultura portuguesa, tradições e comportamentos da sociedade contemporânea estão presentes nas suas criações, geralmente compostas por esculturas gigantes que mesclam realidade e sonho, cotidiano e fantasia, festividade e tragédia. Assim, seguindo o mote da sua trajetória artística, Joana criou o Pop Galo inspirado em um dos símbolos mais relevantes da cultura popular portuguesa, o Galo de Barcelos. A obra que será inaugurado no dia 10 de junho, na Orla do Leme, em Copacabana, faz a ponte entre o passado e o futuro e, segundo Joana, dançará na noite carioca. “Tendo em consideração que o evento assinala a fundação da cidade há 450 anos por Estácio de Sá, um militar português, quis criar uma obra que marcasse a presença portuguesa na história da cidade. Pareceu-me que com ele podia fazer a ponte com o passado e transformá-lo para a contemporaneidade. Pop Galo terá cerca de 7 metros de altura, e será composto por milhares de azulejos e luzes LED coloridas, que brilharão e ‘dançarão’ pela noite afora”, ressalta.

Primeira mulher a expor no Palácio de Versalhes, em Paris, Joana, que sonha em trabalhar no carnaval carioca, diz que independente da questão de gênero foi movida pelo desafio enquanto artista. “Senti uma enorme responsabilidade. Como artista tenho que me equiparar aos outros artistas, sejam eles homens ou mulheres, não é uma questão de gênero, mas sim de responder às expetativas que um convite desta dimensão representa. A minha preocupação foi a dimensão artística e conceptual da exposição. Aquilo que me moveu foi este desafio”, conclui.