Empreendedorismo

Conseguir um bom lugar no mercado de trabalho é difícil para qualquer pessoa, pois a cada dia, a concorrência está muito acirrada e cada vez mais os profissionais estão se preparando para essa grande briga. Mas dentro desse cenário, temos o público feminino, que como se sabe, enfrenta, há muito tempo, uma luta quase que diária para conquistar seu lugar e, mesmo depois de muitas reivindicações e conquistas, ainda não é reconhecido.

Entretanto, o que as pessoas não imaginavam é que um dia veriam mulheres trabalhando em oficinas mecânicas, mas não como recepcionistas. Hoje é muito comum encontrar mulheres no cargo de reparadoras, consultoras técnicas e até mesmo como donas de oficinas. Você ficou chocado? Isso mesmo, atualmente essa profissão, que até algum tempo era vista como essencialmente masculina, tem se tornado cada vez mais coisa de mulher.

…Como é o caso de Priscila Parophe, que começou a trabalhar há 13 anos na área automotiva em uma locadora de veículos. Logo entrou em um curso de mecânica automobilística no Senai e, há mais de dois anos, é supervisora de sinistro na Jopema, empresa reguladora de sinistros. “Trabalhei como mecânica e chefe de funilaria. E pretendo, em breve, entrar para a faculdade de engenharia mecânica. Hoje, o campo de automóveis está mais aberto às mulheres, mas ainda falta muito para que possamos ser vistas como iguais”, relata Priscila, que veio de família de mecânicos e é apaixonada por automóveis.

…A supervisora trabalha com uma equipe de 15 funcionários, em que é a única mulher. Ela ainda afirma que hoje o relacionamento com os outros funcionários é normal, mas mesmo assim existem algumas barreiras. “Muitos (funcionários) não aceitam receber conselhos, opiniões ou ordens de uma mulher, principalmente na área de veículos”, completa.

Já Roseli da Silva nunca recebeu a aprovação dos pais para seguir a carreira de reparadora. Trabalhou como babá, costureira, bancária, mas o amor pelos carros foi maior e foi então que começou a trabalhar na oficina de um amigo para ganhar experiência sem ter salário. Logo depois fez treinamento e estágio na Vargas e, em seguida, trabalhou em uma concessionária da Volkswagen e outra de carros importados. Começou a fazer os reparos mecânicos em casa e depois de algum tempo realizou seu sonho ao abrir sua oficina que, atualmente, atende mais de 350 clientes.

Hoje, a reparadora é consultora da Porto Seguro e ministra palestras em várias partes de São Paulo, e leva um motor cor-de-rosa e que tem o nome de Barbie. “Foi meu namorado que deu a idéia de pintá-lo dessa cor, achava que seria mais feminino. E o mais engraçado é que quando agendo uma palestra as pessoas perguntam se vou levá-lo e me cobram isso. Atualmente, ele é mais famoso do que eu”, conta a reparadora.

As estudantes Tatiana, Tatiane e Laiandra são alunas do curso técnico de mecânica automobilística na unidade do Senai Ipiranga, já atuam na área e planejam se especializar cada vez mais para se firmarem no segmento. Tatiana Mattioli Marçal trabalha na concessionária FordMix e já atuou como consultora em uma concessionária da Volkswagen. Ela entrou na área por influência da família que trabalha com mecânica automotiva desde o avô. Enquanto o pai estava na oficina, Tatiana, ainda pequena, começou a se interessar aos poucos, perguntando a ele o que era cada coisa. Hoje, trabalha junto com outros cinco homens em uma concessionária Ford e enfrenta todos os desafios que o mercado apresenta. “As oportunidades para as mulheres são poucas, nem todas as empresas as aceitam, o diferencial para entrar no mercado é o conhecimento”, relata Tatiana, que ainda afirma que existe grande rejeição por parte das montadoras com relação às mulheres nesse ramo. “O maior desafio para as mulheres nesse setor é o de trabalhar nas grandes montadoras, porque há menos espaço para o público feminino.” Para ela, a convivência com os homens da empresa é normal, inclusive, ela tem grande apoio de todos os funcionários.

A ex-bancária Tatiane Lima Rozza é formada em administração de empresas, trabalhou vários anos na área até que decidiu largar tudo e se especializar para assumir a oficina mecânica da família, onde conviveu grande parte de sua vida. “Eu uni o útil ao agradável, meu pai está se aposentando, eu já gostava da área, ele tem firma aberta, tem clientes há muito tempo e trabalhando no banco eu estava entrando em uma área que não fazia parte do meu futuro”, conta. A experiência de conviver com os clientes desde pequena lhe rendeu uma vantagem em seu dia-a-dia. Os mais antigos já a conhecem e alguns até preferem que ela cuide do carro. “Eles até brincam falando que vão trazer o carro, mas querem que eu olhe”, comenta. Ela acredita que o relacionamento com os clientes não é o maior problema para as mulheres que atuam nessa área, mas sim, a parte física. “A profissão exige muito a força física. Mas as mulheres trazem às oficinas organização e uma comunicação mais atenciosa com os clientes”, enfatiza Tatiane.

…Laiandra Pinheiro, também aluna do curso técnico mecânico automobilística, atualmente trabalha em uma concessionária da Volkswagen e planeja estudar engenharia mecânica e continuar no segmento automotivo com o respaldo de seus conhecimentos. Onde trabalha é a única mulher entre os quase 30 funcionários da área. “Para se firmar no setor, é preciso mostrar capacidade e segurança”, conta. No local de trabalho, ela tenta passar uma postura séria, para que seja respeitada e só trata de assuntos profissionais, para evitar problemas com outros funcionários que, segundo ela, nunca aconteceu. Com relação aos clientes, Laiandra já teve de lidar com muitos casos de preconceito. “Muitos não aceitam o que eu falo e pedem para falar com um consultor técnico, que repete a mesma coisa que falei”, confessa.

Como são vistas pelos homens?

Na unidade do Senai Ipiranga, atualmente, há em andamento 10 turmas do curso técnico em mecânica automobilística e conta com mais de 300 alunos, desse montante apenas sete são mulheres. O coordenador técnico da escola, Sérgio Machado, diz que houve épocas em que não havia uma mulher matriculada, pois mulheres nesse mercado era uma coisa inusitada, mas de um tempo para cá foi ficando constante encontrá-las pela escola.

Machado acha que aos poucos as mulheres vêm conquistando seu espaço nessa área e que ainda têm muito para conquistar. “Hoje, muitas concessionárias preferem contratá-las para as áreas de atendimento, consultoria e venda de peças, mas na parte técnica o setor apresenta uma situação nova, em que as mulheres começam buscar a especialização”, explica.

Ele acredita que elas estão se preocupando em obter o conhecimento para compensar a questão da força física, e que esse conhecimento é uma necessidade para todos do setor, comenta Machado. “A tecnologia está ajudando muito, exigindo cada vez menos a força física, mas isso faz parte de uma transição do mercado e que exige investimento”, que para algumas oficinas pequenas será um processo mais demorado. Para ele, as mulheres são muito competitivas por terem um diferencial que é a concentração, além da capacidade e facilidade de lidar ao mesmo tempo com mais de uma tarefa.

O coordenador pedagógico da escola, Márcio Vieira Marinho, diz ainda que as mulheres são seres que se destacam por serem delicadas e caprichosas. “Claro que não é só isso, elas também são muito dedicadas e, muitas vezes, mais determinadas que os homens”, conclui.

Via Oficina Brasil