Empoderamento

Monique Vidal, a delegada carioca que ficou conhecida no Brasil como a “caçadora de pitboys”, foi uma típica garota de Ipanema, zona sul carioca. Filha única, estudou em bons colégios, mochilou por lugares como Califórnia, Bali e Havaí. A carreira de policial não fazia parte dos seus planos, aconteceu, segundo ela, meio que por acaso. Depois de formada em direito, ela conta que a paixão pelos filmes policiais e pelos seriados de policiais femininas como As Panteras, despertou seu interesse pela carreira. “Fiz direito e não sabia bem o que ia fazer, mas sempre gostei de filme policial, principalmente, de policial feminina. Um dia, andando pelas ruas do Rio, quando estagiava como advogada, vi um anúncio de concurso para delegado da Polícia Civil, aquilo bateu em mim, comecei a estudar e passei na segunda tentativa, em 1997, e estou aqui até hoje”, recorda.

Para ela, que já na primeira missão ficou conhecida por sua atuação contra os pitboys cariocas, quando, à época, grávida de oito meses, saiu à rua para perseguir garotos de classe média alta que promoviam arruaças nas noites cariocas, depredando boates e ferindo pessoas, o início foi complicado, mas graças a sua personalidade forte e destemida, superou os desafios. Para ganhar respeito, diz que muitas vezes precisou aumentar a voz, mas afirmou que é amiga dos policiais e que não se restringe a hierarquias. Sempre contou com a colaboração e respeito de todos. “Meu primeiro plantão foi na delegacia da Barra da Tijuca, cheguei sem conhecer nada, sem saber de nada, mas é aquilo: ou você se impõe ou esquece que vai ser delegada de polícia. E eu sempre tive um gênio forte, sei me impor e estou aqui até hoje. O que eu não sabia, eu perguntava, até hoje eu pergunto, consegui me dar na minha profissão trocando, sem vaidade nenhuma. Não tem essa de só dar ordem não, eu troco. Hoje, tenho uma carreira reconhecida dentro e fora da minha instituição. Sou delegada de primeira classe que é o topo da carreira”, destaca.

A delegada, que tem inspirado autores de folhetins a comporem personagens policiais mais femininas sem o estereótipo antigo de serem masculinizadas, abriu espaço em um ambiente predominantemente masculino à base de um currículo que alardeia a prisão de alguns dos maiores traficantes da zona sul carioca, área onde praticamente sempre atuou. O sucesso das suas operações lhe rendeu o prêmio de primeiro lugar do Governo do Estado do Rio de Janeiro pela redução dos índices de criminalidade na área da 13ª DP, em Copacabana. Com ela, não há tempo ruim, “missão dada é missão cumprida. Em 15 anos de polícia nunca precisei dar um tiro, minha arma é a caneta”, afirma com orgulho.

Corajosa e destemida, ela que já foi personagem principal de romance policial, mesmo armada com sua inseparável pistola ponto 40, nunca deixou de ser feminina. Mas nem por isso os bandidos escapam de suas caçadas. “Sou um pouco vaidosa, sem exageros, adoro acessórios, gosto de moda, mas tenho meu próprio estilo que inclui o cabelo longo. Podem considerar cafona, mas eu adoro”, revela.

O sucesso de Monique e de outras delegadas da sua geração têm inspirado não só à ficção, mas também a vida real. Cada vez mais mulheres estão se formando para delegadas nas academias de polícia do país. Só no Rio de Janeiro, no último concurso para delegado de polícia, 30% dos aprovados eram mulheres. “Hoje você vê várias mulheres delegadas, mas há 15 anos a realidade era outra. Acredito que a figura de uma delegada “bonita, bem-vestida e honesta” ajuda outras mulheres a seguirem a carreira”, avalia.

Mãe, mulher e policial, Monique diz que sonha em ver uma polícia de verdade bem paga. “Polícia boa e barata não existe, os agentes têm que ser bem-remunerados”, reforça. Como mulher, espera contribuir na construção de um mundo melhor. “Quero estar viva com saúde para poder ajudar a construir um Rio de Janeiro melhor, um País melhor para os meus filhos”, afirma a delegada titular da 9ª DP do Rio.