Empoderamento

Sônia Hess de Souza, presidenta da Dudalina, empresa familiar líder do mercado das camisas na América Latina, acredita, acima de tudo, em pessoas, diversificação e resultados. A crença se mostrou frutífera. Desde que assumiu a presidência da empresa, em 2003, a Dudalina tem despontado no mercado da moda, dentro e fora do Brasil, passando a ser objeto de desejo de homens e mulheres do mundo. Seu espírito empreendedor, que diz ter herdado da mãe, Dona Adelina, e o amor pela gestão humana do pai, Seu Duda, o poeta da família, são, segundo ela, os focos da sua gestão. “Minha gestão dá continuidade à tradição da Dudalina focada em pessoas, na geração de empregos, no desenvolvimento do potencial dos colaboradores, na oferta de boas condições de trabalho e no compartilhamento dos resultados. Nosso novo slogan: ‘Amor à camisa e às pessoas’, traduz esse sentimento”, destaca.

Natural de Luis Alves, pequena cidade do interior de Santa Catarina, desde menina junto com os 15 irmãos, ajudou na administração da confecção de camisas, fundada pelos pais. A empresa é fruto do empreendedorismo visionário da mãe, Adelina Clara Hess de Souza, que em 1954, resolveu fazer camisas com os tecidos que o marido, Rodolfo Francisco de Souza Filho, havia comprado de um comerciante em São Paulo. A iniciativa deu certo. As camisas agradaram os fregueses e, em 1957 nasceu a primeira fábrica de camisas Dudalina, na pequena cidade próxima a Blumenau. Hoje, a marca tem seis fábricas, 69 lojas e cerca de dois mil colaboradores.

Grande parte desse crescimento é creditada a sua gestão, cuja trajetória profissional começou cedo, em 1964, quando os pais compraram uma casa em Balneário Camboriú, para a família aproveitar as férias na praia. O espírito empreendedor de ambos, fez com que adquirissem duas lojas no município. Assim, antes mesmo de se falar em guerra dos sexos, no bom sentido, Dona Adelina e Seu Duda se dividiram: pai e meninos em uma, mãe e meninas em outra, competindo para ver quem vendia mais. “As mulheres ganharam, e assim aprendemos a varejar”, recorda. Aos 18 anos, em busca de aperfeiçoamento, foi à Espanha, onde realizou um estágio na maior fábrica de camisas da época. Lá, certa de que iria para o setor de qualidade, acabou no setor de costura. “Eu que nunca tive o menor dom para a costura, tive que aprender a ensinar a costurar, vencendo mais um desafio”, confessa. De volta ao Brasil, Sônia implantou a nova metodologia, reabrindo a fábrica de Luis Alves, que havia sido fechada com a transferência da família para Blumenau. Três anos depois, em 1977, a empresa espanhola convidou-a para trabalhar como chefe das instrutoras no Brasil e ela aceitou o desafio. “Eu tinha 21 anos, queria ser independente, ter mais autonomia, afinal vivíamos numa casa com 15 irmãos, pai e mãe”, ressalta.

Em 1984, a convite dos irmãos, Sônia assumiu a administração do escritório da empresa em São Paulo, onde estruturou todo o departamento comercial da Dudalina. Assim, em 2003, quando foi escolhida entre os 16 irmãos para ser a nova presidenta da Dudalina, Sônia não decepcionou. Em dois anos e meio de gestão aumentou a produção anual das peças de 1,6 milhões para 2,4 milhões e reduziu os gastos, aumentando em 50% o faturamento.

Em 2010, com maior autonomia e confiança, pôde dar vazão a seu espírito empreendedor, investindo na mulher executiva, lançou a primeira coleção de camisas femininas Dudalina, com o slogan: “Camisas para mulheres que decidem”. O lançamento foi um sucesso e já corresponde a 30% do faturamento da empresa. “Crescemos 40% ao ano entre 2009 e 2012 e acreditamos crescer no mesmo ritmo para dobrar o número de empregos até 2015. Adoro dar emprego. Hoje, temos mais de dois mil colaboradores em seis fábricas e 350 no varejo. Somos uma empresa familiar e pretendemos continuar assim enquanto eu estiver no comando, gerando empregos e compartilhando o resultado do sucesso com nossos colaboradores. Toda minha gestão é focada em pessoas. Investimos muito na capacitação e bem-estar dos funcionários”, afirma Sônia.

A sustentabilidade e a geração de renda também fazem parte do rol de atividades da empresa Dudalina, bem antes do tema começar a ser discutido. A preocupação com estas questões começou com Dona Adelina que confeccionava, com as sobras de tecidos, artigos de patchwork em sua própria residência. Hoje, o Instituto Adelina mantém ativa a responsabilidade social e ambiental com diversos projetos como o de geração de renda que já disponibilizou cerca de 35 mil quilos de retalhos para desenvolver produtos, contribuindo para melhorar a receita de comunidades carentes através da capacitação profissional de inúmeras pessoas. “A Dudalina busca ações que promovem mudanças na sociedade e integrem os elos da cadeia produtiva”, afirma Sônia.

Ainda em 2010, Sônia abriu a primeira loja conceito do grupo, a Dudalina 595, no bairro do Paraíso, em São Paulo. A partir dessa experiência, a empresa avançou no varejo em 2011, com abertura de lojas exclusivamente para o público feminino. O projeto prossegue e já conta com 69 lojas Dudalina, sendo 42 próprias e 27 franqueadas. “Acreditamos que há espaço para cerca de 100 unidades no país”, aponta. A expansão, segundo Sônia, não se limita ao território nacional e já chegou à Europa. “Com a inauguração, no ano passado, do primeiro showroom da marca na Itália, em Milão, abrimos espaço para a sua internacionalização. E já estamos estudando a inauguração de duas novas lojas, uma em Moscou e outra em Viena”, revela Sônia.

Primeira mulher a ganhar o prêmio Personalidade de Vendas em 50 anos da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), em 2012, considerada uma das dez mulheres mais poderosas do Brasil, pela revista Forbes, em 2013, Sônia acredita que a mulher está cada vez mais preparada para o mundo dos negócios. “Hoje, 50% dos empreendedores no Brasil são mulheres. Elas estão mais preparadas, mais seguras para assumir posições de comando com o apoio da família e da sociedade. Seja no lar ou nos negócios elas são empreendedoras e se sentem mais seguras para enfrentar os desafios”, avalia.

Além de sua dedicação à Dudalina, Sônia faz parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo Federal e do Conselho Consultivo Superior de Governo de Santa Catarina (Consult). Ela faz parte do Conselho Curador da Fundação Dom Cabral, é diretora da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) e, é presidenta do Grupo LIDEM – Grupo de Mulheres Líderes Empresariais.